quarta-feira, 24 de outubro de 2007

..."É o fartar vilanagem..."

Um amigo de infância, que previligia, aqui e ali os prazeres de bem comer e melhor beber, alma aberta e coração de ouro, mas sem nunca perder as lucidez, numa das muitas conversas que mantemos, concordava comigo quando lhe afirmava andarem por aí a dizer que "isto" está mau...
Quando digo "isto", refiro-me, naturalmente a tudo que se relaciona com o aspecto monetário.
O dinheiro é a mola impulsionadora de todas as reacções que lhe estão directamente ligadas, sendo o principal motivo das boas ou más disposições do ser humano, é ele que regula as feições dos rostos das pessoas, até as suas formas de olhar seja o que for e para onde for.
Se o dinheiro não nos causa problemas ou ajuda a resolvê-los , há sorrisos nos lábios, caras abertas,
olhares doces e meigos, disponibilidade para com os outros, até educação e boas maneiras, ao contrário, se o vil metal escasseia, se as contas ficam por pagar e se o fim do mês ainda vem longe, há olhares distantes e tristes, rostos fechados e carrancudos, para não falar em casos mais extremos...
Porém, uma coisa é aquilo que todos dizem, outra coisa é aquilo que todos fazem e passa por uma realidade que o não é, antes todo um artifício que leva a pensar que somos gente em País farto. Paradoxo, ou não, somos povo rodeado de fartura. Senão vejamos:
Em qualquer lado se ouve dizer que há maridos fartos das esposas, sendo o contrário ouvir-se também. Os pais queixam-se fartos dos filhos pela falta de cumprimento dos principios éticos e da boa educação que lhes ensinaram. Estes, dizem-se fartos dos pais porque são demasiado exigentes.
Cá fora, e se repararmos no que nos rodeia, a fartura cresce de tom. Fartámo-nos de correr para chegar a tempo ao emprego. Fartámo-nos de trabalhar e o salário nunca é uma fartura farta, fartámo-nos de dormir depressa, porque as horas fartam-se de voar. Fartámo-nos de mastigar comida farta de produtos quimicos.E em pleno século XXI ainda continuamos fartos de tanto primitivismo numa sociedade farta de oportunistas, até naquilo que parece mais insignificante.
Apetece, portanto, gritar, raiando a heresia, que até os deuses devem estar fartos daquilo que o instinto animalesco dos homens provoca na procura das suas farturas.
Nestas coisas de fartura, O HOMEM É O PIOR INIMIGO DO HOMEM. Porque , quem tem muita fartura cada vez se preocupa em ser mais farto. Por outro lado, quem está farto de nada, farta-se de esperar que alguém se farte de ser egoísta, egocentrista, desgovernado e desavergonhado.
E aquilo que nos querem oferecer das suas farturas é intragável, provoca indigestões, mau estar, contracções num estômago social que ameaça rebentar com tanta fartura.
Valha-nos, para disfarçar, porque também somos capazes de mostrar o que não somos, que os nossos sonhos se enchem de ar e de vento e nunca desaprendemos de assobiar quando a fartura nos passa ao lado sem a conseguirmos agarrar...

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