sábado, 15 de dezembro de 2007

...UM PAI NATAL COMO HÁ MUITOS...

Encontrei alguém que me dizia ser irmão gémeo do Pai Natal.

Gémeo não será o termo exacto, embora haja gémeos falsos e dos mesmos pais...

Ora, este Pai Natal sendo gémeo numas coisas não poderá sê-lo noutras.

Não terá barbas brancas, não terá toda a sua generosidade por razões compreensíveis, não poderá "realizar" os sonhos que alimentam os natais daqueles que acreditam em alguma coisa. Este " pai natal" de carne e osso, tem-me seguido qual sombra, é chefe de família, bom marido, bom pai de filhos, homem trabalhador e cumpridor de todas as suas obrigações enquanto cidadão, um homem igual a tantos e tantos anónimos que habitam o planeta Terra.

No hoje, amanhã e depois de tanta " perseguição" dessa sombra, acabei por me confrontar com ele. Bondoso como o Pai Natal do nosso imaginário, mas com um saco enorme cheio de desejos, alguns utópicos, mas com uma montanha de preocupações em relação aos mais próximos que o rodeiam e que fazem parte da sus família. As prendas que gostava de distribuir são diferentes: Nem bonecas, nem bicicletas, nem tão pouco jogos ou "Game-Boys", muito menos bolas ou coisas assim que enchem as montras de qualquer loja duma qualquer rua duma qualquer cidade.

Esta alma gémea, que diz ser do Pai Natal não tem sequer um trenó para se deslocar, antes precisa de despertar cedo e correr atrás dos transportes públicos, mesmo quando as greves retardam a chegada ao emprego, muitas vezes precário. Não almoça em casa, porque é mais barato comer uma sandes e uma peça de fruta , mas só uma, note-se, porque também o intervalo para a refeição é apertado e exige que cumpram outras importantes obrigações.

Esquece, ou faz por isso, a hora do lanche pois daí a pouco são horas de regresso a casa, com o inevitável desvio para recolher as crianças no infantário e, para as quais nunca poderá faltar seja o que for, muito menos um beijo terno e carinhoso. Para eles e para a sua consorte, acabada de chegar da fábrica, carregada com uma saca cheia de nada e uma conta da mercearia longa como as suas consumições...

As prendas de Natal ainda não foram feitas. É que a chaminé da casa é estreita como o orçamento mensal e a lareira tem estado apagada porque há outras opções mais prioritárias. Mas, quem sabe, pode acontecer que alguma coisa ainda sobre no deve e haver das despesas. Quem sabe um pequeno milagre...

É que os miúdos estão à espera dessa noite mágica e o Pai Natal das barbas não lhes fará a desfeita de passar ao lado.

Fica a dúvida em saber se sim ou não, se recebeu as cartas escritas a tempo, sob o risco de o código postal ser o mesmo porque as prestações para o apartamento são prioridade absoluta, quando não, até o emprego terá os dias contados por uma qualquer falência, um qualquer arresto ou despejo, um qualquer corte nas encomendas...

É assim, amigo pai natal que me persegues como a sombra. É esta a vida que temos. É esta a realidade que, aqui e ali, se abate num qualquer lar português.

A tua história, a tua sombra, a tua imagem é igual à de tantos e tantos pais, que também o sendo no Natal, também o são durante todo o ano !

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